Nasci e cresci em uma família extremamente católica, daquelas que reza antes de comer nas reuniões de família, não assiste nem TV na sexta feira da paixão e vai a Igreja toda semana. Fato esse que moldou grande parte da minha personalidade atual, sendo
Nas últimas semanas, o assunto das redes sociais gira em torno dos evangélicos, comissão de direitos humanos, pastor Marco Feliciano e temas relacionados a isso. Um dos meus passatempos favoritos é ler os comentários que são postados nos links de fotos, entrevistas e derivados. Grande parte deles sempre justificando as suas posições e dando exemplos. Sou contra a permanência do atual presidente na comissão e contra a posição que ele e seus seguidores assumem, levando debaixo do braço a bíblia para corroborar seus argumentos. Será que é certo usar um livro com inúmeras “verdades” pra justificar suas escolhas? que parte disso veio da criação de meus pais e a outra parte dos valores que adquiri junto a religião. Anos mais tarde, decidi que a religião não era algo que se encaixa naquilo que eu acreditava e tinha fé, nem a católica, nem a evangélica, nem qualquer outra. Não era pra mim. Entretanto, nunca neguei a grande importância que a catequização teve e tem em minha vida. Quando se é criança limites são necessários. Roubar, ofender, desobedecer pai e mãe, brigar, entres outros é errado; ser justo, honesto, caridoso, bom com os outros, saber dividir é certo. São regras simples a se passar para uma criança, que moldam os valores que carregamos para a vida toda. E nessa fase, a religião é uma grande aliada aos pais e a sociedade. O problema se encontra quando o limite entre fé e fanatismo é cruzado.
Não sou nenhum teólogo, muito menos tenho o conhecimento básico sobre a Bíblia. Tudo que aprendi foi indo a missa, na catequese e em um início não muito bem sucedido da crisma. Porém, sei o suficiente pra saber que se trata de um livro escrito a centenas de anos por homens, em uma época totalmente diferente, com valores e sociedade totalmente destoantes da atual. Sendo assim, o que nos é passado hoje é uma interpretação que cada religião cristã tem da Bíblia – fato esse justificado pelo fato de que o mesmo livro deu origem a crenças diferentes -, além disso, todos sabem de algumas imposições absurdas que a mesma traz como homens não poderem fazer a barba, não se poder comer fruto de árvores com menos de 3 anos, etc. Mais uma vez o ser humano, por meio de seus representantes da fé, selecionam desse livro aquilo que desejam usar a seu favor, como por exemplo a homossexualidade como pecado. E a minha pergunta é: o que faz alguém se achar tão importante a ponto de decidir o que da Bíblia é importante para a sua sociedade ideal e o que não é?
Tenho vários amigos, alguns deles muito próximos, que fazem parte de congregações cristãs evangélicas e católicas, e ainda assim não criminalizam aborto, homossexualidade e legalização da prostituição como profissão. O que diferencia esses meus amigos dos outros participantes dessas igrejas? Voltando aos comentários da internet, é muito fácil se deparar com o taxado “está escrito na Bíblia, não fui eu quem disse”. Volto a dizer que a Bíblia diz muitas coisas, e o responsável por escolher aquelas as quais você aceita como sua verdade não é de Deus, nem de um ou outro pastor ou padre que não merecia esse posto. A responsabilidade é sua e somente sua. O fanatismo, o desespero ou a carência fazem com que algumas pessoas entrem em um mundo sem opinião própria, se tornem esponjas sugando tudo àquilo que é passado a elas sem usar o bom senso pra discernir o que de fato é aplicável à vida e a sociedade em que elas se encontram. Esse fanatismo também as impede de querer aprender, de estar abertas a novas descobertas. Então, se você é contra o casamento homossexual, se você é contra o aborto, se você acha que um local onde um travesti trabalha não é um lugar de família, honre a sua opinião. Seja homem ou mulher suficiente pra assumir a sua palavra. É muito fácil e cômodo jogar a culpa em Deus, falando que ele disse isso ou aquilo. Jogar a culpa nos outros é sempre a saída mais fácil.
Ainda sobre justificativas dadas, agora mais especificamente sobre os GLBT, eu tenho PAVOR de gente que quer usar genética pra defender valores cristões. Ser homossexual é passível de escolha porque nunca foi encontrado um gene gay? Porque quando se tem dois irmãos gêmeos um é gay e o outro não é o necessário pra comprovar a sua teoria? Sério, gente, vamos parar de inventar. Conte-me mais sobre o que a base criacionista tem a dizer da genética quando ela defende que o homem evoluiu de um organismo microscópico passando pelo macaco? Essa parte não é interessante, porque segundo a igreja o homem foi criado por Deus em estado perfeito, e a mulher veio a partir da costela desse homem perfeito. Escolhas, escolhas, escolhas.
Às vezes as pessoas não se dão conta do quão contraditório suas ações e palavras são. Isso é resultado de uma fé cega, que não permite a avaliação da situação como um todo, limitando a utilização de tudo que de bom possa sair dali. Não tenho nada contra religiões, apesar de não ter a minha. Eu tenho contra gente sem opinião, sem força de vontade, que aceita tudo que é imposto sem indagar, sem questionar e sem ver o mal que pode causar ao outro. Utilizando-se de justificativas sem sentido para defender opiniões antiquadas. Não acho que ninguém é obrigado a gostar de tudo, mas é obrigado a respeitar. E a partir do momento que aquilo não influencia na sua vida, recue e fique de fora dessa luta.
Voltando para o público GLBT, a sua opinião e a sua imposição não vai afetar o sentimento que existe um pelo outro, não vai mudar a sensação de estarem casados ou não. Se você acha que a família vai “acabar” quando casais homoafetivos puderem se casar, saiba que no fim das contas não faz diferença nenhuma. Quem tiver que ser gay, lésbica, travesti ou bissexual será de qualquer jeito, você deixando ele se casar ou não. O desejo dessa minoria é o direito de construir uma vida judicialmente juntos, ter direito a plano de saúde para cônjuges e outros benefícios que não envolvem, em nenhuma atmosfera, valores morais. Por favor, tire o seu preconceito da frente porque eu quero passar com o meu amor.